Estamos no início do segundo semestre de 2020. Ano que o nosso planejamento de projetos, viagens, metas e entregas sofreu impacto que os futuristas não haviam projetado (ou pensado) que aconteceria tão recentemente (ou precocemente). Vivemos desde março uma nova realidade que não estava no script de muitas pessoas, onde a adaptação foi a única saída, um instinto de sobrevivência.
Faço o convite para você imaginar o seguinte cenário. Você está numa viagem, onde preparou um roteiro bem detalhado do que fará em cada dia para aproveitar ao máximo. Você está dirigindo com o auxílio de um GPS por uma estrada que não conhece, e de repente ao chegar se dá conta que não era o destino que você havia planejado e nem consta no roteiro.
Qual seria a tua reação?
Reação A: ficar com raiva, se alterar, culpar o GPS e dar meia volta para o destino que você havia planejado?
Reação B: conhecer o destino que você chegou, saber quais atrações tem ali e curtir o “erro” de localização.
A vida tem nos convidado a viver novas realidades, às vezes ela prepara o terreno para o que está por vir, já em outras oportunidades nos surpreende com mudanças bruscas e ficamos com a sensação de estar flutuando à deriva no espaço.
É possível nos preparar para todas as possibilidades que a vida nos mostra? Diria que não, pois são muitas, mas é possível aprender a se ADAPTAR ao que a vida nos proporciona.
No início pode ser desconfortável, nos apegamos tanto a nossas rotinas, aos nossos costumes, ao nosso jeito de sempre fazer as coisas. Às vezes até nos tornamos uma Gabriela, “... eu nasci assim, eu cresci assim, Gabriela...”. Porém sejamos francos conosco mesmo, olhe para onde você está, olhe para todas as notícias de mudanças publicadas diariamente. Quantos acontecimentos foram acelerados e nós estamos fazendo parte disso tudo.
A pergunta que te faço é, você está pronto para tudo isso e muito mais?
Pronto 100% acredito que não, mas um caminho a se trilhar é desenvolver a competência que existe em você de ADAPTABILIDADE.
Isso mesmo, se adaptar às mudanças, acredito que você tenha ouvido o exemplo do camaleão e sua capacidade de se camuflar de acordo com o ambiente. Nós também temos essa capacidade, mas para mantê-la viva em nós é necessário diariamente:
Ajustar as lentes – olhar de forma otimista para as mudanças, não é viver num mundo cor de rosa, mas se permitir experimentar o novo e a aprender com ele;
Reconfigurar o sistema – somos seres humanos, temos em nós a maior diversidade de configuração e podemos combiná-las de acordo com a nossa realidade. Podemos abandonar o olhar mecanicista sobre nós, como se fossemos uma máquina, onde configuramos o nosso sistema para operar de uma única forma;
Respeitar os encontros – os novos cenários são sempre um convite para encontrar pessoas e espaços diferentes do nosso, e ao chegar, o respeito é imprescindível nas relações, para com aqueles que tem a facilidade de se adaptar e com aqueles que têm dificuldade;
Aprender a desaprender – como desaprender? levo tanto tempo para aprender a fazer algo. Sendo sincera te entendo, fazer cursos, ler artigos e livros para refinar uma metodologia. E você se pergunta, para que mexer num time que está ganhando? Porque se você não mexer ele pode perder, há sempre novas formas de fazer algo. Mantenha a chama da curiosidade da tua criança interior sempre acessa.
Usar um telescópio – estar sempre antenado com as tendências de sua área de atuação ou interfaces, tendências por onde o mundo navegará, é uma excelente oportunidade de investir seu tempo, aprender novas habilidades e ajustar as tuas velas.
Bora se exercitar?
Vamos fazer uma retrospectiva da sua história, olhe com carinho e verás por quantas mudanças você passou e foi capaz de se adaptar. Você deve ter entrado na faculdade, deve ter mudado de casa ou mesmo de cidade, ou mesmo de emprego, deve ter viajado e conhecido pessoas e lugares diferentes, deve ter mudado o estilo de se vestir, entre outras mudanças. Porém, se você não fez nenhum tipo de mudança durante toda a tua vida, é um enorme ponto de atenção, na cor vermelha ainda. Faço o convite para você iniciar algumas, aposto que terá experiências incríveis. Comece tomando novos trajetos para o trabalho ou estudo, puxe converse com um desconhecido, ouça um novo estilo de música (aposto que você nunca ouviu uma música em japonês), vá num restaurante novo, escolha uma filme aleatório no serviço de streaming, enfim, são tantas oportunidades, comece por aquela que se sentir mais confortável.
O exercício mexe com a gente, mas o intuito dele não é dar taquicardia, e sim, um convite a imaginar cenários hipotéticos e quais seriam as suas atitudes.
A investidora Natalie Fratto em seu TED destaque que busca startup onde os fundadores saibam responder quais as alternativas teriam, se passassem por mudanças. Se você ganhasse uma bolsa de estudo para ficar um mês em outro país? Se você fosse desligado da sua empresa? Se o seu relacionamento tivesse um fim? Se você fosse promovido? Se você recebesse a tão sonhada oportunidade na tua carreira em outro estado? E se... O que você faria? Quais seriam as tuas atitudes? Teria um plano para executar?
Momento hands on: tire um tempo e faça esse exercício do E SE? EU FAREI... de acordo com a sua realidade, dedique um tempo em pensar nas suas ações.
Não é sobre criar cenários catastróficos e se paralisar com o medo do novo, é sobre pensar que mudanças podem e vão acontecer em nossas vidas e como nos preparamos para elas.
Veja no gráfico a curva de adaptação humana às mudanças. Sim, as mudanças estão acontecendo em forma exponencial e nós estamos seguindo um movimento linear.
Gráfico da adaptabilidade humana de Eric Teller. (Fonte: FRIEDMAN, Thomas L. Thank you for being late: An optimist’s guide to thriving in the age of accelerations. Farrar, Straus and Giroux, p.44, 2016)
Hoje a adaptabilidade é como uma competência imprescindível, tanto é que foi desenvolvido um quociente de adaptabilidade para medi-la, o Q.A, para além dos habituais QI e QE os quais estamos nos preparando por meio de estudo e vivências. O QA está ganhando corpo, e podemos relacioná-lo a capacidade de passar por mudanças, o que inclui oito estágios:
Interesse inicial – a curiosidade diante do que estar por vir;
Choque – incômodo depois do interesse e reflexão do que está por vir e não enxerga a necessidade de mudar;
Negação – não aceitar e querer se esquivar da realidade que bate a porta;
Raiva – reagir negativamente, pois a percebeu que a mudança está acontecendo;
Barganha – ciente de que existe uma nova realidade que precisa ser enfrentada, o funcionário tenta compensar o desconforto, voltando a atenção para fatores que o façam sentir melhor e trabalhando os efeitos da mudança;
Adaptação – visualiza o lado bom da mudança e começa a aceitar a transformação;
Teste – momento em que toma coragem e decide experimentar o novo processo ou estratégia, constatando seus benefícios na prática;
Aceitação – por fim, aceita a mudança e está pronto para tirar proveito dela, aumentando sua energia, produtividade e comprometimento.
Se a sua empresa implementasse hoje essa avaliação, que estágio você estaria?
Abrace o novo, dará um frio na barriga de início navegar no desconhecido, mas você consegue, desde que esteja aberto e se adapte diariamente.