A paternidade trouxe novas habilidades para a sua vida?


"Querido diário minha rotina mudou drasticamente nos últimos tempo. Agora faz parte do meu dia a dia dar banho na minha filha, preparar sua comida, assistir com ela seu filme predileto. Acompanho suas consultas na pediatra e verifico se as vacinas estão em dia. Ela passou mal na semana passada e sai no meio de uma reunião para levá-la ao médico. É lindo vê-la nas apresentações da escola. E o momento que mais gosto no dia é quando chega a hora de contar sua história favorita para dormir e ela me conta como foi seu dia.”



Este relato faz parte da realidade de muitos pais, nos revela como as pequenas atitudes de cuidado e conexão estão presentes no dia a dia com os filhos. Uma rotina desafiadora e cansativa que nos provoca a ser cada dia melhores. 


O contexto da paternidade evoluiu, onde o papel do pai era somente de prover os recursos financeiros para família e a mãe assumia todo os cuidados com o filho e o lar. Hoje o papel do pai é compartilhar as responsabilidades do cuidado com os filhos e também a rotina doméstica. Reconhecemos que esta realidade ainda não faz parte de muitas famílias, o que torna a paternidade ativa um canal de desenvolvimento para igualdade de gêneros. 


Uma das formas de incentivar a paternidade ativa é dar condições aos pais para estarem presentes desde o nascimento de seus filhos. Pensando nisso, o Governo Federal instituiu em 2008 o Programa Empresa Cidadã, dentre suas ações é conceder a Licença Paternidade estendida de 15 dias, para além dos 5 dias já praticados pela legislação. Algumas empresas como a Nubank, L’Oréal, Mastercard e Facebook já oferecem um período maior do que o previsto na legislação brasileira. Há iniciativas internacionais relevantes, como a Suécia que oferece até 16 meses de licença paternidade e a Espanha que a partir de 2021 oferecerá 4 meses para os futuros pais participarem de forma presente e ativa nos cuidados do bebê.



E quais as vantagens de incentivar uma paternidade ativa? 


Na pesquisa realizada pela Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal identificou-se 6 retornos significativos para empresas investirem em ações voltadas para a primeira infância, como maior envolvimento dos pais por estarem tranquilos; aumento da produtividade e do nível de colaboração; redução de falta pelo horário flexível; maior retenção; redução no custo de novas contratações e melhora da imagem com os clientes. 


E outro estudo conduzido pela MenCare, em 2015, traz em seu relatório Estado dos Pais no Mundo a seguinte conclusão: “Pais que relatam conexões próximas e não violentas com os filhos vivem mais, têm menos problemas de saúde mental ou física, são menos propensos ao abuso de drogas, mais produtivos no trabalho e relatam ser mais felizes do que os pais que não têm essa conexão com os filhos”. 



Como a paternidade ativa pode impactar a vida de um homem? 


O dia a dia da paternidade é um aprendizado hands on e uma transformação constante. As atividades que o pai passa a exercer, como: de pensar na logística de acompanhar o filho no médico ou levá-lo para um passeio; ou quando o filho está doente e requer uma atenção redobrada de administração de medicamentos e maior carinho; e a rotina que o relato acima trouxe. São formas de desenvolver habilidades socioemocionais, as softskills como chamamos no ambiente corporativo, na prática.  



É possível identificar essas habilidades, soft skills, aplicadas no ambiente corporativo? 


Sim, é possível. Observa-se mudanças como: maior colaboração num ambiente competitivo; uma escuta mais ativa e atenciosa ao invés da rispidez no se relacionar; as relações tendem a ser mais próximas e acolhedoras do que frias; prática do diálogo construtivo do que uma discussão; maior respeito e empatia nas interações, principalmente em ambientes diversos. 


No dia a dia do trabalho, os pais tendem a estar mais atenciosos aos detalhes, pois vive assim a sua paternidade. Para profissionais em posição de gestão, a condução das etapas dos projetos passa a ser construída com maior riqueza de detalhes e as negociações ocorrem na esfera do ganha a ganha. 



Os próximos passos para concretizar essa realidade: 


 Reconhecer que há uma construção histórica do modelo de pai e papel do homem na sociedade. Há vários assuntos que permeiam esse universo que não são pensados no dia a dia, como: ao homem não foi ensinado a expressar os seus sentimentos, a trocar ideias e pedir ajuda para questões da vida que ele não sabe lidar (ou melhor, que ele ainda não aprendeu a lidar).


​​​​​​​ Abrir espaço para diálogos sobre a paternidade e o papel do homem na sociedade. As empresas exercem um papel significativo, pois podem facilitar esses diálogos e desenvolver diversas ações que convidem para reflexão e práticas de mudança de comportamento.


 Aceitar que ainda caímos na esfera do julgamento que o pai já precisa fazer isso e aquilo, mas ele ainda não aprendeu a exercer esse papel. Trata-se de um processo de aprendizagem e proporcionar experiências vivenciais é um caminho para mudar esse cenário.


 Formar parcerias e estabelecer redes para tornar essa pauta presente no calendário de ações da empresa.